10/03/2013

Meta-Hidra

(aquarela sobre papel, 10x10 cm, 2012)

"Meta-Hidra"

É comum na mitologia o tema de uma questão feita flor.
Tomemos o caso de Narciso; ou o do jovem Jacinto; ou ainda a da ninfa Dafne.
Em todos eles o deus Apolo parece manter relações - diretas ou indiretas.
E em todas essas narrativas Apolo e seus ideais são narrados de perspectivas deturpadas e improdutivas, culminando numa metamorfose vegetal como solução poética inevitável.

A Hidra, a serpente monstruosa de sete ou nove cabeças (depende da versão) tinha por aspecto ainda mais terrível a sua capacidade de fazer renascer qualquer das cabeças quando decepadas. Espécie de figuração de vícios múltiplos e incessantes, como em deltas de grandes rios.

Ou como ramos de uma desastrosa árvore.

Daí uma figuração ainda não contemplada no curso mitológico: a da redenção poética da Hidra por sua transformação vegetal. Nessa, as cabeças seriam ainda mais infinitas e convertidas em sua renúncia em vermelho - em redemoinhos cor-de-sangue. Nos quais, quando se corta ou fere um, nasce outro. Contudo, não no mesmo lugar, mas como fazem as árvores: num caminho alternativo, numa nova experiência e aventura.
O pântano natal do monstro seria agora solo fértil, apto ao crescimento virtuoso do fundo de sua escuridão. Presa ao solo, não seria a Hidra o atacante, mas sempre a receptora, a acarinhada por mãos sensíveis. E retribuiria em perfumes ao invés dos hálitos tóxicos de seus venenos. E cederia de bom ânimo suas cabeças-flor para que os amantes fizessem seus cortejos.

E, através de uma volta sem fim, a Hidra retornaria aos corações humanos renovada. Já não seria a besta fera odiosa que gera ódio e instinto bélico. Mas sim a criatura singela, sujeita até aos sopros, geradora das canções de amor.

Talvez a Hidra fosse apenas a máscara de uma árvore maravilhosa.